No Botão, os Casamentos.

“Os Casamentos antigamente faziam-se em casa, matavam-se as cabras, uma série delas, depois, era preciso dar andamento àquelas carnes todas. Da cabra aproveitava-se tudo. Fazia-se o Ensopado, o Picado e a Chanfana. O Ensopado era feito com as fressuras da cabra bem partidinhas e postas num guisadinho com cebola, azeite, alho. Regava-se com um bocadinho de vinho tinto para lhes dar cor. Depois, para apurar punha-se no forno ao mesmo tempo que a Chanfana. O Picado fazia-se com pedaços das costelas da cabra, eram guisadas num tacho com os mesmos temperos do Ensopado, e acompanhava com esparguete. A Chanfana fazia-se com a carne do pescoço, das mãos e das ancas. Punha-se nas caçoilas de barro preto com cebola, alho, manteiga de porco, toucinho, azeite, sal, colorau, pimenta, cravinho, salsa, louro e vinho tinto. A cabeça da cabra, partida em pedaços, e a ponta das patas da cabra, depois de bem limpas e arranjadinhas, punham-se numa caçoila de barro com os mesmos temperos da Chanfana, era a comida que se dava ao pessoal que estava a trabalhar no casamento.”

Memória Oral

No Botão, sente-se a beleza do cenário bucólico do Maciço de Coimbra e a proximidade à montanha faz sentir o corrupio urbano como uma realidade, ainda, longínqua. Outrora, os dias eram passados ao sabor do calendário agrícola e religioso, sempre marcado pelas devidas pausas. O Casamento permitia a quebra da rotina, contudo, os dias que o antecediam e os que se lhe seguiam eram de grande trabalho, sobretudo, na cozinha. Da Cabra fazia-se a celebrada Chanfana, mas também o Picado e o Ensopado. Da Galinha, com os miúdos e partes menores fazia-se a Canja e o Arroz Pardo, e com a peça maior, a Galinha Assada. Momento de celebração familiar e comunitário, o casamento era vivido com abundância alimentar, espécie de voto de fertilidade para o futuro do novo casal.

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