Em Torres do Mondego, sente-se um último sopro do caráter serrano do rio. Viril ainda, por entre as ravinas feitas de rochas xistosas, vai desenhando o seu curso de forma decidida. Na expressa solidão da montanha, quase nada se faz sentir de presença humana, pois que a paisagem é toda ela pertença dos elementos naturais. As casas acompanham o declive e encaixam-se de forma tranquila nas vertentes inclinadas que ladeiam o rio. É a beleza da Serra que se sente, ainda que, pouco mais adiante, o leito que, antes corria encaixado, flua ao sabor do vale que se anuncia na Portela. Se, por quase todo o concelho, a Cabra enche a mesa nos dias de festa, em Torres do Mondego, ela multiplica-se em inúmeras receitas que fazem dela elemento fundamental da alegria deste povo. A Chanfana era o prato principal, mas com o mesmo tempero se faziam os Negalhos, a Língua, a Cabeça, as Patas. Do resto do molho que sobrava, faziam-se as Sopas Fervidas. Já as pernas eram assadas, era o Chispe. Tanto receituário a partir de um animal que pertence à Serra, diz-nos o quanto ele era estimado pelo concelho de Coimbra.