Em São Martinho do Bispo, na Páscoa.

“Muito se produzia nestas terras, do campo e do monte. Depois, íamos pela estrada antiga, ao mercado da cidade vender o que se tinha cultivado, as cebolas, os alhos, os tomates, os nabos, os pimentos, as couves, os ovos, as galinhas. E na volta, trazíamos mercearia e algum peixe. Tinha de haver regra no que se comia. Só nas dias de festa é que se matava uma galinha. Na Páscoa, usava fazer uma Canja com o caldo de cozer a galinha e, com os miúdos e o sangue, arranjava um Arroz Pardo. O vinagre que se juntava ao sangue para não coalhar, dava-lhe um sabor muito bom. A galinha ou se assava ou se guisava. Mas, na Páscoa o que eu gostava muito era dos Bolos. Levavam farinha de trigo, fermento, raspa de limão, ovos, açúcar e manteiga. Demoravam muito a levedar e, naquela altura, coziam-se no forno do pão. Eram redondos e, por cima, tinham uma coroa, mas também havia quem lhe pusesse ovos. Quando o padre passava, tinha-se um bolo destes em cima de uma mesa. Também se punha uma laranja com a oferta para o padre. Depois, partia-se a laranja em pedaços e comíamos todos um gomo daquela laranja benzida.”

Memória Oral

Eram muitos os frutos que davam as terras do Monte e do Campo sendo a proximidade à cidade uma promessa para conseguir fazer render os cultivos da época. Era a constância do leva e do traz, entre os arredores e o centro da cidade, que permitia que a economia doméstica fosse lugar seguro desta comunidade rural. As festas traziam sempre comer melhorado. No Domingo de Páscoa, a Galinha fazia as honras de uma refeição completa e bem nutrida com a Canja, o Arroz Pardo e a Galinha Assada. Mas eram os Bolos que se faziam por esta quadra que recebiam a maior atenção. Hoje, são muito mais do que memória, são prática muito presente nos rituais de oferta pascais.

Descubra a ruralidade de Coimbra.