Em São Martinho de Árvore, o Baixo Mondego.
“O arroz era o ganha pão dos pobres. Era um trabalho duro, pois andávamos sempre de costas curvadas, mas também era uma maneira de ganhar algum dinheiro para fazer vida. Quando lá andávamos, cantávamos umas modinhas para o tempo passar mais depressa. «Ó águia que vais piando por essas terras além, leva-me ao céu onde eu tenho a alma da minha mãe», «minha mãe, minha mãezinha, triste sorte foi a minha, fui para o campo trabalhar, fiquei toda queimadinha». Quando andávamos a trabalhar no campo, toda a gente tinha muito medo daqueles toiros bravos que por lá andavam. Ao fim da tarde, quando o sol começava a mergulhar lá vinham esses toiros rio acima, passávamos muitas aflições fugir deles.”
Memória Oral
De todas as freguesias que acompanham o rio Mondego, de Este para Oeste, pela sua margem direita São Martinho de Árvore é a que mais se aproxima das terras do Campo. Ainda que situada nas terras de Monte, ao resguardo das águas que, outrora, inundavam a planície, o aglomerado de habitações quase entra pelas terras férteis do vale. Por isso, a ligação ao campo e às culturas do Milho e do Arroz é forte e faz parte da história de todas as famílias. Apesar da dureza e do rigor dos trabalhos agrícolas que, ainda hoje, sobrevive na lembrança, o orgulho é grande na paisagem e na proximidade ao Baixo Mondego. Também a Vala do Norte é estimada na memória, pois que dela vinham as Enguias e os Ruivacos, petiscos que serviam de refeição para tantas famílias.
