Em Ribeira de Frades, o Mondego.

“No dia de festa da Nossa Senhora da Nazaré, o almoço era rico, não faltava a Chanfana. Migava-se a carne aos bocadinhos para dentro do alguidar e punha-se alho, louro, salsa e colorau. Esfregava-se a carne muito bem com os temperos e ficava assim de um dia para o outro para tomar gosto. No dia seguinte, acendia-se o forno de manhã e punha-se a carne nas taças de barro vermelho e cobria-se com vinho tinto. Antes, tapavam-se as taças com papel pardo ou uma folha de couve. Havia pessoas que comiam a Chanfana com batata cozida, mas outras só queriam a carne com o Pão de Trigo. É claro que não faltava o Arroz-Doce. Na oitava da festa da Nossa Senhora da Nazaré, ninguém almoçava em casa, pegavam nos restos do almoço da festa, faziam um farnel e iam comer ao areal do Mondego. Ia uma orquestra e era uma festa, tudo comia e tudo dançava. Só vínhamos à noite, sempre a tocar e sempre a dançar, ia tudo para o campo, ia tudo para o rio.”

Memória Oral

Em Ribeira de Frades, o Mondego ficava mais belo quando as moças, depois dos trabalhos nos campos do Arroz, se iam lavar nas águas do rio e, de regresso a casa, cantavam e bailavam como se o dia não tivesse sido de esforço. Era um Mondego lindo que se cruzava com a vida das pessoas e as fazia sentir parte da sua história. Na oitava da festa da Nossa Senhora da Nazaré, ajeitavam-se os farnéis e ia-se até ao areal comer o que ainda tinha sobrado do farto almoço daquele dia festivo. Vivido com pompa e circunstância, o dia de celebrar a padroeira deixou a memória de rituais que ainda hoje são cumpridos por toda a comunidade e que jamais esquecem a ligação antiga com o Mosteiro de Santa Cruz. Todos os anos, se vive com particular emoção a chegada do Círio que, vindo de Santa Cruz, é depois exposto pelas ruas de Ribeira de Frades. É o Mondego o fio que une esta comunidade. Outrora, alimentava aqueles campos com os nateiros das cheias sendo, por isso, senhorio de terras tão desejado pelos monges crúzios pelos frutos que davam. Era, também, o rio alívio para o calor, nas tardes quentes de verão. Lugar, ainda, de encontro solitário e de confraternização comunitária, nunca o Mondego se desprendeu dos braços desta comunidade.

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