Em Cernache, os Moinhos.

“O meu pai comprava milho, moía e, depois, vendia a farinha a quem não tinha grão. Os que traziam o grão para o meu pai moer, quando vinham buscar a farinha, deixavam a maquia. Era assim. Moía-se também trigo, centeio, cevada, quando era próximo de aguçar o moinho, levantava-se a pedra e moíam-se favas e milho painço, era para fazer as farinhas para dar de comer aos animais. E tínhamos um moinho que só moia o trigo, era a mó alveira, uma pedra era mais macia e outra mais áspera, por isso se diz que duas pedras ásperas não fazem farinha. Com esta farinha de trigo, fazíamos umas Filhoses só com a água e sal. Era tudo bem amassado, fritavam-se em azeite e, no fim, levavam açúcar e canela. Também gostava muito das Belhoses que se faziam com a massa da broa. Eram boas!”

Memória Oral

Outrora, pelo vale do Mondego, todos os caminhos do pão iam dar a Cernache. A múltipla presença da água, através das nascentes de Feteira, do Olho Marinho, de Salviegas, de Vila Nova e do Rifano, que no seu conjunto faziam a Ribeira de Cernache, criavam a força motriz necessária para que muitos rodízios fizessem girar as mós que moíam o cereal. Os caminhos dos Moleiros contavam as histórias do taleigo que ia cheio cereal e que voltava com farinha, depois de retirada a maquia. Fosse a moagem de Milho do Monte ou do Campo, Trigo, Centeio ou Cevada, pelas margens das ribeiras, era o trabalhar das mós o som que se misturava com a água. Até fava e milho painço passavam por estes moinhos. Da margem esquerda à margem direita, do topo norte às redondezas de Cernache, sentia-se a fama daqueles moleiros. Por isso, todos os caminhos do pão iam dar a Cernache, por entre as pedras das mós, uma nova vida, um novo ciclo iniciava-se para o cereal. E eram o moleiro e a moleira os obreiros dessa transformação.

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