Em Ceira, a Chanfana.

“Na festa da Nossa Senhora da Conceição comia-se a Chanfana. A minha mãe usava carne de cabra, ainda hoje faço como ela fazia. Ponho, num caçoilo, duas cabeças inteiras de alho, só se tira a raiz para fora e lava-se muito bem, junto uma malagueta, uma folha de louro e põe-se a carne cortada por cima, depois, junta-se o colorau, o sal e o vinho tinto. Mexe-se bem a carne com as mãos, para os temperos se introduzirem bem. Não leva mais nada. Antigamente, era cozida em caçoilo de barro preto coberta com uma folha de couve em cima. Em dia de festa comia-se só a carne, era para encher a barriga, porque a minha mãe comprava uma cabra para a festa, vinha um homem à aldeia com um rebanho e cada um comprava uma rês.”

Memória Oral

Era a comida das festas, dos dias da abundância em que a alegria da mesa farta era alento para os dias em que o conduto escasseava. A morte da rês servia vários propósitos. A Chanfana, os Negalhos, o Arroz de Fressura, a Sopa de Chanfana ou de Casamento, permitiam a utilização de todas as partes da cabra sendo esta animal estimado pela memória de momentos de celebração da comunidade. Ainda hoje, as mãos por detrás da receita mantêm o ritual dos temperos e fazem deste receituário herança que sobrevive à passagem das gerações.

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