Em Assafarge, a Vinha e o Olival.

“Sempre que fazíamos a vindima guardávamos um bocado de mosto para fazer Arrobe. Era o sumo das uvas, mas antes de entrarem em fermentação. Punha-se num tacho ao lume e deixava-se ferver até reduzir para metade. Era muito bom para se barrar o pão. Para além do Vinho, também se fazia a Jeropiga. Quando era pelos Santos, no dia 31, os miúdos iam pelas casas pedir os bolinhos e recebiam os tremoços, os figos secos, as passas de uva, umas maças, e os mais velhos iam a casa duns e doutros e bebiam jeropiga a acompanhar qualquer bolito que se comesse. Como, em Assafarge, o ar era mais seco, conseguia-se secar muita fruta. A minha avó secava figos Pingo de Mel, ameixas, pêssegos e uvas. Punha a fruta em cima duns tabuleiros com rede e deixava-os a secar ao sol, à noite retirava-os por causa da humidade. Também havia outra tradição que eu gostava muito. Na Sexta-Feira Santa, os miúdos iam pedir e diziam «dê-me uma esmolinha pela sagrada morte e paixão de Nosso senhor Jesus Cristo» e alguns acrescentavam «ah e eu só tenho isto!». Nesse dia recebiam milho, feijão seco, laranjas, uns peros que duravam muito, os malápios e dinheiro.”

Memória Oral

A vinha, o olival e as culturas de Inverno predominavam nas colinas e baixios de Assafarge. Com menos água e de algum relevo, as terras adequavam-se a culturas que fossem menos exigentes de regadio. Da vinha, as uvas serviam para fazer o Vinho, a Jeropiga e o Arrobe. As Azeitonas serviam para muito mais do que só para o Azeite. Em muitas situações, eram conduto e faziam de refeição a acompanhar as Papas ou a Broa. Por isso, eram curadas com desvelo e bem temperadas com segurelha. Sempre presente na cozinha, o azeite predominava em quase todos os cozinhados, daqueles que se faziam em dias de festa como a Chanfana àqueles que preenchiam os dias de trabalho como a Açorda. Simples, apenas com o alho, o azeite e pão de trigo, levava uns ovos batidos que ficavam em fios quando se juntavam à Açorda. Também a que se fazia com azeite, cebola, alho, tomate, louro e pão de trigo ficava de regalar. Sabores simples que a comunidade de Assafarge soube preservar.

Descubra a ruralidade de Coimbra.